21 de dez. de 2010

Paixão que não se mede: 365 dias seguindo o Flamengo

Uma paixão que dá gosto de ver, impressiona. Desmedida e contagiante. Chamá-los de malucos nem ofende. É o que mais ouvem desde o início do ano. É difícil encontrar adjetivos para definir o jornalista Márcio Moura, de 33 anos, e o arquiteto Robson Olivera, de 40. Dois caras que respiram Flamengo, que têm o clube do coração no fundo da alma (no caso de Márcio também tatuado na pele) e um bocado de boas histórias para contar.






A primeira delas é a da amizade da dupla. Um convívio recente, de pouco mais de dois anos, que vai ser levado para o resto da vida. Foi daí que ganhou força uma ideia incomum. Em 2008, Márcio queria ir a Belo Horizonte para assistir a Flamengo x Cruzeiro. Sem companhia, telefonou para o amigo Alan, que o colocou em contato com Robson. Robson topou acompanhá-lo.





- Trocamos uma ideia e fomos viajar. Nessa viagem, descobrimos que tínhamos o mesmo sonho: pegar um ano e seguir o Flamengo em todas as partidas. Assim nasceu o 365 – contou Márcio.





O 365 tem nome e sobrenome. Trata-se do documentário “365 dias seguindo uma paixão”. Empolgados pelo título do Campeonato Brasileiro de 2009, escolheram 2010 para acompanhar o Rubro-Negro onde ele estivesse. A paixão pegou a estrada, ganhou asas, cruzou fronteiras.





- No dia 17 de janeiro, gravamos o primeiro jogo (contra o Duque de Caxias), no Maracanã, sob sol de 42 graus. Tivemos um probleminha com a câmera, que estragou. Fomos correndo a um shopping perto do Maracanã para comprar outra. Aí começou o documentário. Focamos na ideia de acompanhar torcedores apaixonados como nós – explicou Robson.





Foi o ponto de partida de um sonho levado a sério, um compromisso difícil de ser sustentado. A vida passou a seguir a rotina de jogos do time. Família, amigos e trabalho ficaram em segundo plano.





- Sempre tivemos a preocupação de não falhar. Nossa ideia era ir a todos os jogos. Se eu tivesse uma câmera quebrada, roubada, esquecesse em casa, acabaria o projeto. Havia esse medo. Mas fomos 100%. Foram 66 partidas acompanhando o nosso clube do coração – disse Márcio.





O 365 desbravou 14 cidades brasileiras, além de Caracas, na Venezuela, e Santiago, no Chile. Robson elege dois jogos fora do Brasil como os mais marcantes.





- Duas coisas me marcaram. Uma foi o jogo contra o Caracas. Primeiro porque jogamos contra um time de um país que não tem tradição no futebol. Quando vimos, estávamos no meio da torcida deles, não tinha estrutura para receber partidas de futebol. Não havia policiais no estádio. Quando o Flamengo fez 1 a 0, fomos atacados com facas, garrafas, perdemos bandeiras, a bandeira do Rio de Janeiro. Os torcedores do Flamengo se uniram, ganhamos a partida (3 a 1, em 10 de março) e no fim saímos com os jogadores escoltados do estádio. Foi marcante. No Chile (contra o Unversidad do Chile, em 17 de março), há alguns dias havia acontecido um terrível terremoto e abrimos uma bandeira do Flamengo com a frase “Fuerza, Chile!” e todo mundo levantou e nos aplaudiu. Aquilo marcou muito para mim (o Fla perdeu por 2 a 1) – relatou.





Márcio elege a partida contra o Corinthians, pelas oitavas de final da Libertadores, como a mais impressionante.





- O jogo que mais me marcou foi o Flamengo e Corinthians, onde eliminamos o Corinthians dentro do Pacaembu (em 5 de maio, a derrota por 2 a 1 classificou o Fla). Tinha todo esse projeto pró Corinthians, essa coisa do Ronaldo, e eles nunca ganharam uma Libertadores. Conseguir eliminá-los na casa deles foi uma experiência incomum, voltamos para casa muito felizes, pensando “agora vai”. Não foi, mas está tranquilo – lembrou Márcio.





Nas quartas de final, contra o Universidad do Chile, o Rubro-Negro viu o sonho do bi continental ruir. Márcio e Robson estavam lá, sofreram. Também não gostaram nada da derrota na final do Campeonato Carioca (contra o Botafogo) e muito menos da fraca campanha no Brasileirão, quando o risco de rebaixamento só foi eliminado na penúltima rodada.





- Em nenhum momento pensamos em parar pelos resultados. Não tivemos bons resultados durante o ano, mas dissemos que iríamos até o fim. Tivemos dificuldades financeiras, porque o projeto não é barato. Na pausa para a Copa do Mundo, paramos, analisamos os custos e decidimos se continuaríamos ou não. Tivemos o apoio de alguns amigos para seguir. Setembro foi negro, pois o Flamengo jogava quarta-feira e no fim de semana. Quando decidimos continuar, só seria possível se revezássemos. Nos desdobramos. Fazia a minha parte, de fotógrafo, a do Márcio, que era a filmagem, além de esticar a faixa. Com ele foi da mesma forma. Aí vários amigos de viagem ajudavam com chuva ou com sol. São amigos que conquistamos seguindo essa paixão - lembrou Robson.





Márcio completa com frases carregadas de emoção.

- Torcer pelo Flamengo não é nada comum. É uma paixão que não tem como dimensionar. Ser Flamengo é nunca estar sozinho em nenhum lugar desse planeta - destacou.

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