3 de ago. de 2012

Londres, dia 7: Cesar Cielo volta a ser criança ao chorar por um bronze


Ele esperneava de tão irritado. Cuspia marimbondos. Bufava. E chorava, chorava, chorava. Que ninguém tentasse consolar o pequeno Cesar se ele não fosse o primeiro colocado em suas provas de natação quando criança. Que ninguém tentasse parabenizá-lo por uma prata ou um bronze. Por vezes, ele até se negava a subir ao pódio. Tinha obsessão pelo primeiro lugar, tinha gana por estar aqueles centímetros acima dos demais – como quase sempre esteve na infância e na adolescência, como se acostumou a estar quando adulto, como foi eternizado em Pequim. Nesta sexta-feira, a cortesia olímpica e a maturidade esportiva fizeram Cesar subir ao palco para ser parabenizado pelo terceiro lugar. Ele não esperneou. Não cuspiu marimbondos. Não bufou. Mas chorou. Já com a medalha no peito, chorou. Por um dia, o grande Cesão, o enorme campeão olímpico de Pequim, voltou a ser criança, voltou àquele tempo em que não aceitava perder.
Cielo, Natação 50m Final (Foto: Satiro Sodré / AGIF)A primeira reação de Cielo ao ver que era medalhista de bronze em Londres (Foto: Satiro Sodré / AGIF)
Cesar Cielo é medalha de bronze nos 50m livre das Olimpíadas de Londres. Com o mínimo de compreensão do cenário olímpico, é fácil concluir que não é o fim do mundo: afinal, é uma medalha. Talvez qualquer um de nós, no lugar de Cielo, gargalhássemos de alegria. Mas ele não aceita perder - sobretudo perder para ele mesmo.
 
Rafael Silva na luta de judô contra Kim Sung-min (Foto: Reuters)Rafael Silva, o bebê gigante, comemora medalha
de bronze em Londres (Foto: Reuters)
O panorama do nadador era o ouro de quatro anos atrás. Ele se obrigava a manter o topo como seu habitat. E não conseguiu. Por isso, mesmo que por alguns minutos, voltou a ser a criança de tempos atrás.
Mas é engraçado. Ao mesmo tempo, um grandalhão com apelido de bebê ficou feliz da vida com uma medalha da mesma cor, do mesmo peso, do mesmo quilate da de Cesar.Rafael Silva, o Baby, fez o judô do Brasil quebrar seu recorde de medalhas em uma mesma edição dos Jogos. São quatro – acrescidos aí o ouro de Sarah Menezes e os bronzes de Felipe Kitadai e Mayra Aguiar. O bebê bronzeado é uma criança um tanto bem nutrida: tem 2,03m e 168kg – sem contar o peso da medalha no peito.
Os dois bronzes
Cesar Cielo era o favorito da prova. Era o atual campeão, o recordista olímpico, o recordista mundial, o dono da melhor marca nas semifinais. Novo ouro era uma realidade. Mas faltou combinar com um francês. Florent Manaudou, de apenas 21 anos, fez uma das provas mais surpreendentes de toda a semana de natação em Londres. Com 21s34, garantiu o ouro – o tempo é superior a todos aqueles alcançados pelo brasileiro sem os supermaiôs. A prata ficou com o americano Cullen Jones, com 21s54. Cielo fez 21s59. Quase perdeu a medalha para outro brasileiro, Bruno Fratus, que completou os 50m em 21s61.
- Poderia ter feito melhor – disse ele.

Rafael Silva vivia realidade diferente. Embora forte na categoria peso-pesado, degustava sua primeira experiência em Olimpíadas. Para subir ao pódio, ele teve que superar Kim Sung-Min, da Coreia do Sul, no golden score.
Venceu por yuko, pontuação mínima do judô, graças ao acúmulo de shidos (advertências) contra seu adversário. Foi engraçado vê-lo comemorando ao lado de seu treinador, Luiz Shinohara, de 1,65m. Era muita discrepância no tamanho. E muita semelhança na alegria.
O ouro na categoria foi para o francês Teddy Riner. Alexander Mikhaylin, russo, foi prata. O outro bronze ficou com Andréas Toelzer, alemão.
Dia de eliminações para o Brasil
Yuki Ogimi marta brasil x japão (Foto: Getty Images)Marta lamenta enquanto japonesa comemora gol
que eliminou o Brasil (Foto: Getty Images)
O dia foi ruim para os esportes coletivos brasileiros. As mulheres foram eliminadas no futebol e no basquete. Também perderam a invencibilidade no handebol. E vivem situação de alerta no vôlei.
No futebol, a derrota foi para o Japão, atual campeão mundial, por 2 a 0. Marta teve atuação apagada. E o Brasil, duas vezes vice-campeão olímpico, morreu de forma precoce, já nas quartas de final. A campanha começou com duas vitórias, sobre Camarões e Nova Zelândia, mas foi abalada ainda na primeira fase com insucesso contra a Grã-Bretanha. Era o prenúncio do fim.
E o basquete foi a crônica de um fiasco anunciado. Com atuações recheadas de momentos quase infantis, a seleção somou um tropicão atrás de outro. A quarta derrota seguida foi para o Canadá: 79 a 73. Como punição para uma campanha tão medíocre, a equipe ainda terá que enfrentar a Grã-Bretanha em um jogo que, para o Brasil, terá valor nulo. A eliminação já é certa, já é matemática.
Erika basquete Brasil x Canadá (Foto: AFP)Brasileiras saem chateadas de quadra após mais uma derrota (Foto: AFP)
É uma situação bem diferente daquela vivida pelo handebol, que perdeu nesta sexta-feira, mas pela primeira vez. Após três vitórias, as meninas levaram 31 a 27 da Rússia. Mas elas já estão garantidas nas quartas de final.
O vôlei reagiu. Pouco, mas reagiu. A seleção feminina bateu a China por 3 sets a 2 e agora depende da última rodada para avançar. Tem que vencer a Sérvia, lanterna da chave, e torcer para que a Turquia perca para os Estados Unidos. É provável que aconteça.
Julião Neto na luta de boxe contra Jeyvier Cintron Ocasio (Foto: Reuters)Julião Neto perde para porto-riquenho Jeyvier
Cintron Ocasio (Foto: Reuters)
O Brasil também sofreu uma queda no boxe.Julião Neto, 30 anos, perdeu para o Jeyvier Cintrón Ocasio, de Porto Rico, por 18 a 13 e deu adeus às chances de medalhas. O adversário é bem mais novo: tem apenas 17 anos.
No judô, o Brasil teve o bronze de Rafael Silva, mas bateu na porta com Maria Suelen Altheman. Na disputa pela medalha, ela foi superada pela heptacampeã mundial Wen Tong, da China.
Na natação, o esporte brasileiro morreu cedo em duas categorias. Nos 50m livre, Graciele Hermann não conseguiu vaga nas semifinais.E o revezamento 4x100m medley, sem Cielo, não garantiu lugar na final.
Juliana Veloso também voltará cedo para casa. Ela somou 241.15 pontos no trampolim de 3m, marca insuficiente para firmar pé nas semifinais dos saltos ornamentais.
Outras eliminações aconteceram no atletismo. Andressa de Morais, de 21 anos, não teve sucesso na briga por espaço na final do arremesso de disco. Ela terminou a disputa em 16º. Keila Costa decepcionou ao fazer apenas 13,84m e não passar do 20º posto no salto triplo. Geisa Coutinho e Joelma Sousa foram eliminadas já nas classificatórias dos 400m rasos.
Perspectivas
vôlei juliana e larissa londres 2012 (Foto: Agência Reuters)Juliana e Larissa seguem fortes na briga pelo ouro
(Foto: Agência Reuters)
O vôlei de praia, o atletismo e a vela trazem boas perspectivas de vitórias para o Brasil. Nas areias, as duplas verde-amarelas mantiveram a campanha impecável. Juliana e Larissa avançaram às quartas de final com vitória de 2 sets a 0 sobre as holandesas Meppelink e Van Gestel. As parciais foram de 21/10 e 21/17. Pedro Cunha e Ricardo também se classificaram: 2 sets a 0 sobre os espanhóis Herrera e Gavira, com parciais de 21/18 e 21/19.
Robert Scheidt e Bruno Prada depositaram uma medalha no cofre. E agora esperam para saber qual será o valor dela. O bronze está garantido, mas ela ainda pode ser de prata ou (embora difícil) até de ouro. No último dia antes da regata decisiva, os brasileiros obtiveram uma terceira colocação, enquanto seus maiores rivais, os britânicos Iain Percy e Andrew Simpson, venceram. São eles os favoritos ao ouro.
O primeiro dia de atletismo trouxe a reboque outra esperança de medalha. Mauro Vinícius da Silva, o Duda, avançou à final do salto em distância com a melhor marca do dia: 8,11m, ao lado americano Marquise Goodwin. A decisão será neste sábado.
Rosângela Santos, nos 100m livre, se tornou a primeira brasileira a passar para as semifinais da prova em Jogos Olímpicos. Foi a segunda melhor na quinta bateria, com o tempo de 11s07, atrás da americana Allyson Felix, que encerrou com 11s01.
Revanche de Wimbledon
Roger Federer tênis Londres 2012 Olimpíadas semi (Foto: Reuters)Roger Federer avança para a decisão contra Andy
Murray (Foto: Reuters)
O dia foi marcante no tênis. Roger Federer sofreu para vencer o argentino Juan Martin del Potro por 2 sets a 1, parciais de 3/6, 7/6(5) e 19/17. A partida durou 4h26m e quebrou o recorde de mais longo duelo em melhor de três sets na Era Aberta (a partir de 1968) do tênis. O suíço foi à final, e seu adversário será Andy Murray, o mesmo que ele bateu em Wimbledon há menos de um mês. O inglês foi à decisão olímpica depois de bater Novak Djokovic por 2 sets a 0, parciais de 7/5 e 7/5. No feminino, a final será entre a americana Serena Williams, que atropelou Victoria Azarenka por 2 sets a 0, com parciais de 6/1 e 6/2, e a russa Maria Sharapova, classificada após bater a compatriota Maria Kirilenko também por 2 sets a 0 - 6/2 e 6/3.
O atletismo deu as caras em Londres com vitórias expressivas. A principal foi da etíope Tirunesh Dibaba, que ganhou os 10.000m, repetindo o feito de Pequim. Ela foi ovacionada pelo público ao completar a prova, seguida por duas quenianas: Sally Jepkosgei Kipyego e Vivian Jepkemoi Cheruiyot.
A sexta-feira também trouxe mais um daqueles episódios que oscilam entre a graça e a comoção. Masempe Theko, atleta do Lesoto, completou os 50m livre com o tempo de 42s35. É muito acima do exigido para se classificar. Para se ter uma ideia, a melhor marca das semifinais foi de 24s07 – quase metade. Visivelmente fora de forma, a atleta não treinou nos últimos dias. Não quis mostrar a outros nadadores que estava gordinha. Mas se declarou orgulhosa de ter disputado as Olimpíadas.
Masempe Theko na prova de natação 50m livre em Londres (Foto: AP)Masempe Theko salta para fazer o pior tempo do dia nos 50m livre (Foto: AP)
Orgulho também teve Wojdan Shaherkani. Ela é, agora oficialmente, a primeira atleta saudita a disputar as Olimpíadas. Mesmo que tenha perdido já na sua primeira luta, para Melissa Mojica, de Porto Rico, ela deixou seu nome marcado na história dos Jogos.
- Espero que seja o começo de uma nova era. (...) Quem sabe consiga uma medalha na próxima vez – disse ela.
E a próxima vez dela deve ser no Rio de Janeiro.
 Judo Wojdan Shaherkani arábia saudita Melissa Mojica porto rico londres 2012 (Foto: Agência EFE)Judo Wojdan Shaherkani é a primeira saudita a disputar Olimpíadas  (Foto: Agência EFE)

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