10 de fev. de 2014

Em carta, Paulo André diz que ideia de greve não partiu do Bom Senso FC

Paulo Andre corinthians treino (Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians)Paulo André explica bastidores da tentativa de greve (Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians)
O zagueiro Paulo André, do Corinthians, divulgou nesta segunda-feira à noite, em sua conta no Facebook, uma carta para explicar que a tentativa de paralisação do Campeonato Paulista, ocorrida na semana passada, não foi uma ação orquestrada pelo Bom Senso FC. O movimento, do qual o defensor é um dos líderes, foi criado para lutar por melhores condições de trabalho aos jogadores. Defende um calendário mais enxuto e exige que os clubes honrem seus compromissos financeiros, mas não participou da articulação da tentativa de greve, afirma o corintiano.
Segundo Paulo André, foi o Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo quem propôs a paralisação em solidariedade aos jogadores e funcionários do Corinthians, que, no sábado retrasado, viveram momentos de terror quando o CT Joaquim Grava foi invadido por membros de facções uniformizadas. Paulo explica que apoiou a greve, conversou com os capitães de alguns dos principais times paulistas para discutir o assunto, mas o movimento não foi adiante por causa das implicações jurídicas que a greve poderia acarretar para clubes e jogadores. 
- Após a invasão, era unânime por parte da diretoria, atletas e funcionários do SCCP (Sport Club Corinthians Paulista) que o jogo (contra a Ponte Preta, no domingo seguinte à invasão) deveria ser adiado, pois os jogadores não se encontravam em condições psicológicas de atuar - escreveuPaulo André
O zagueiro, em seguida, explica porque o Timão acabou entrando em campo:
- No domingo, uma nova reunião aconteceu, e eu, como capitão da equipe, passei à diretoria que os atletas haviam decidido não jogar a partida contra a Ponte Preta. O presidente Mário Gobbi e o treinador Mano Menezes, após nos apresentarem as possíveis consequências de não irmos a campo, deixaram a sala e pediram que repensássemos. Após alguns minutos de discussão, estávamos convencidos de que jogar era a melhor decisão para o clube e, para tanto, pedimos que fosse divulgada uma nota dizendo que o SCCP não estava de acordo com aquela partida e que reconhecia os riscos de violência a que estávamos expostos, mas, por motivos contratuais, iríamos a campo.
Paulo André prossegue afirmando que, na semana seguinte, se comprometeu a conversar com os capitães dos clubes para falar sobre a possibilidade de paralisação, que ocorreria no último final de semana. Ele falou com Rogério Ceni (São Paulo), Edu Dracena (Santos), Fernando Prass (Palmeiras) e Roberto (Ponte Preta). Segundo o zagueiro corintiano, todos se solidarizaram com o que ocorreu aos corintianos e se mostraram dispostos a ajudar. 
O defensor conta que os outros capitães expuseram o caso a seus companheiros de clube e também buscaram orientação jurídica para saber se a greve teria respaldo legal. 
- Uma vez detectadosos riscos que os atletas de seus clubes corriam, Rogério e Prass optaram por não apoiar a greve. Na quinta feira, dia 6, passei todas essas informações a Rinaldo Martorelli (presidente do Sindicato), que me comunicou que os avanços e as tratativas com o poder público haviam sido significativas e que isso o deixava tranquilo para suspender a proposta de paralisação, fato que ocorreu na sexta-feira, dia 7 de fevereiro.
Confira a íntegra da carta
Venho a público me manifestar oficialmente pois há um tremendo erro de interpretação e de entendimento no que tange as atividades e o relacionamento entre o Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo, a minha pessoa e o Bom Senso F.C. Há 15 anos, a minha prioridade é, e nunca deixou de ser, o meu trabalho e o meu desempenho dentro de campo como jogador de futebol, hoje do Corinthians. Assim como fiz em toda a minha carreira, continuo sendo um profissional dedicado e comprometido com o meu clube, com o bom relacionamento interno e com o devido respeito à paixão dos torcedores. Isso nunca significou que não pensarei em outras atividades extra-campo. Já afirmei publicamente, diversas vezes, que prioridade é bem diferente de exclusividade e eu tenho discernimento suficente para dividir meu tempo como atleta profissional e como cidadão comum. Aos que insistem em me colocar na categoria de “jogue bola e esqueça o resto”, pela útima vez: desistam.
Com relação ao ocorrido:

No sábado, dia 1 de fevereiro, após a invasão do CT Joaquim Grava, era unânime por parte da diretoria, atletas e funcionários do SCCP que o jogo deveria ser adiado pois os jogadores não se encontravam em condições psicológicas para atuar no dia seguinte. Por volta das 13h, todos se reuniram na sala de fisioterapia e eu, como capitão da equipe, representei o grupo diante da diretoria, de acordo com a vontade dos atletas. Ficou decidido que seríamos liberados da concentração e retornaríamos no domingo, às 11h da manhã, para uma reunião final, com elementos suficientes e ânimos acalmados para tomar, em conjunto com o clube, a melhor decisão. No domingo, uma nova reunião aconteceu, e eu, mais uma vez, pela posição de capitão da equipe, fui o porta-voz do grupo e passei à diretoria que os atletas, de forma unânime, haviam decidido não jogar a partida contra a Ponte Preta. 

O Presidente Mário Gobbi e o treinador Mano Menezes, após nos apresentarem as possíveis consequências de não irmos a campo e os impactos que o clube poderia vir a sofrer, deixaram a sala e pediram que repensássemos uma última vez sobre a decisão final. Emerson pediu para que Edu Gaspar e Alessandro ficassem na sala e nos ajudassem a encontrar uma saída. Após alguns minutos de discussão, estávamos convencidos de que jogar era a melhor decisão para o clube e, para tanto, pedimos que fosse divulgada uma nota dizendo que o SCCP não estava de acordo com aquela partida e que reconhecia os riscos de violência a que estávamos expostos mas que, por motivos contratuais com a Federação Paulista e a TV Globo, iríamos a campo.

Na terça-feira, dia 4 de fevereiro, o grupo de atletas profissionais do SCCP, divulgou uma nota oficial que contou com a participação, o apoio e a autorização de todos os atletas do elenco. Neste comunicado foi dito que: “Nós tornamos público o nosso apoio à iminente paralisação proposta pelo sindicato dos atletas profissionais do Estado de São Paulo para o fim de semana, visando melhorias nas condições de trabalho para os empregados de todos os clubes de futebol do país”. Quem propôs a paralisação foi o Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo, não eu ou o Bom Senso F.C.
Após a divulgação da nota e por causa do apoio dos atletas do nosso elenco à paralisação, eu, como capitão do time, conversei diversas vezes com o Sr. Rinaldo Martorelli, presidente do sindicato, me colocando à disposição para conversar com os capitães do São Paulo, Palmeiras, Santos e Ponte Preta, cuja amizade e o respeito vêm de longa data.

Edu Dracena e Roberto disseram que fariam o possível para ajudar. Fernando Prass e Rogério Ceni se solidarizaram com o que vivenciamos e também se colocaram à disposição. Segundo eles, procuraram o elenco de jogadores de seus clubes e expuseram a situação. Na opinião geral, um posicionamento mais forte do nosso clube e do nosso presidente contra as torcidas organizadas facilitaria a adesão de uma provável paralisação. Caso contrário, seria difícil intervir e abraçar a causa.

Em paralelo a isso, todos, sabiamente, buscaram ajuda e suporte jurídico para saber se a greve teria respaldo legal ou não. Uma vez detectada a dificuldade jurídica e os riscos que os atletas de seus clubes corriam, Rogério e Prass (representando o grupo de jogadores dos seus respectivos times) optaram por não apoiar a greve. Na quinta feira, dia 6 de fevereiro, passei todas essas informações ao Sr. Rinaldo Martorelli, que me comunicou que os avanços e as tratativas com o poder público haviam sido significativas e que isso o deixava tranquilo para suspender a proposta de paralisação, fato que ocorreu na sexta-feira, dia 7 de fevereiro.

Com relação ao Bom Senso F.C.

O Bom Senso F.C, não propôs e não se pronunciou a respeito de nenhum desses fatos citados acima, simplesmente porque o movimento mantém sua posição de se manifestar e discutir apenas assuntos relacionados ao calendário do futebol brasileiro e ao fair play financeiro, duas bandeiras (exclusivas até o presente momento) que foram o motivo da união e do consenso de milhares de jogadores profissionais no país.

É preciso esclarecer que desde que optei, por convicção à causa, participar do Bom Senso F.C, minhas entrevistas, posições e atitudes têm sido alvo de grande confusão. 

Para aqueles que cobram bom senso 24 horas por dia, gostaria de esclarecer que bom senso é diferente de perfeição. Bom senso é um conceito ligado às noções de sabedoria e de razoabilidade para poder fazer bons julgamentos e boas escolhas. É ligado também à ideia de sensatez e à intuição de distinguir a melhor conduta em situações específicas. Como não há uma verdade absoluta em qualquer conhecimento ou atividade humana, existe, para todos, o direito de errar ou de se equivocar. Se um dia eu der um carrinho mais forte, um empurrão, um soco, se passar no sinal vermelho ou cometer um erro na defesa do Corinthians, deixo claro que isso nada tem a ver com as minhas convicções sobre as mudanças que acredito serem necessárias no futebol brasileiro.

Então é hora de parar de se apegar a argumentos frágeis para me responsabilizar ou me culpar por problemas do futebol brasileiro como a violência no futebol, a Portuguesa, o Fluminense, a audiência da TV, o nível dos jogos, etc... Porém, se os atletas do interior ficarem desempregados ao fim dos estaduais e não receberem seus contratos integralmente, saibam que continuarei participando de práticas que lutem por melhorias para esses caras. E se alguns clubes jogarem apenas 15 partidas, fecharem suas portas no mês de maio e nada puderem fazer porque quem está no poder não dá a mínima para eles, saibam que continuarei participando de práticas que busquem uma solução para este problema, mesmo que isso incomode muita gente, e mesmo que venha me causando consequências tão desagradáveis.

Deixo claro que não tenho absolutamente NENHUM interesse político neste movimento. Não sou aliado, manipulado e muito menos fantoche de ninguém, e também não apoio nenhum possível candidato à presidência da CBF ou de onde for. Não estou prestes a me candidatar, nem a me filiar a um partido político. Apesar de estar sendo alvo de difamações ultimamente, das quais estou checando minhas possibilidades em nível judicial, continuarei fazendo o que julgar coerente com as minhas convicções nos meus períodos de folga. Espero ter esclarecido os fatos para que os interessados possam repensar seus conceitos e tirar suas próprias conclusões. Eu amo o futebol e apenas isso basta para explicar a minha luta e os meus sonhos.

“O que me preocupa não é o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter... O que me preocupa é o silencio dos bons” (Martin L. King)

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