19 de dez. de 2013

Atleticanos vendem ingressos para jogador do Raja e pedem: 'Ganhem'

Nenhum encontro poderia ser mais inusitado nesta quinta-feira em Marrakesh do que o de André, Thiago, Felipe, José Heitor, Luiz Eduardo e Abdelmajid Dine. Cinco torcedores do Atlético-MG e um atacante do Raja Casablanca, juntos, no estacionamento do hotel que hospeda a equipe marroquina, finalista do Mundial de Clubes. 
O motivo era ainda mais surpreendente, tanto quanto a vitória dos anfitriões por 3 a 1 sobre o Galo, na quarta-feira. Desiludidos com o resultado, os integrantes da Massa desistiram de ir ao estádio no sábado para assistir ao duelo de seu time contra o Guangzhou, pelo terceiro lugar, e também à final entre Raja e Bayern de Munique. A decepção contrasta com a euforia dos marroquinos, ávidos por ingressos. Dine, camisa 9 da equipe, é um dos que buscam bilhetes para dar à família. Se havia gente interessada em vender e alguém interessado em comprar, só faltava o intermediário. Coube a um repórter da Al-Jazeera, rede de TV do Catar, que está hospedado no hotel dos atleticanos e conhece os jogadores do Raja, apresentar uns aos outros.
torcedores Atlético-MG vendendo ingressos jogador dine Raja Casablanca (Foto: Alexandre Alliatti)O atacante Dine (de branco), do Raja, comprou ingressos de quatro atleticanos que desistiram de ver a disputa de terceiro lugar e a final depois da derrota do Galo para a equipe marroquina (Foto: Alexandre Alliatti)

A negociação foi rápida, mas houve tempo para Dine pechinchar. Os ingressos eram os mais caros do estádio, valiam 150 dólares (cerca de 350 reais).
- Se não vendermos para você, vamos vender para outras pessoas - disse Felipe Caram.
Negócio fechado. Dine comprou dois ingressos. Um aperto de mão selou o acordo, que veio acompanhado de um pedido em tom de ordem ao atacante:
- Ganhem o jogo! Agora nós somos Raja - exclamou um deles, admirado com a festa da torcida local.
Vamos embora para voltarmos no ano que vem com o Galo
André Prates
Antes de responder com um largo sorriso e entrar no hotel com sua filha, uma linda garotinha, o jogador, que não participou da vitória sobre o Atlético-MG, tirou uma foto com os torcedores. Os brasileiros hesitaram em aparecer ao lado de um dos algozes. Mas André Prates puxou a fila e prevaleceu o espírito esportivo. Quase uma retribuição ao gesto dos jogadores do Raja que atacaram Ronaldinho após a partida e levaram dele tudo que podiam.
O quinteto, que ainda busca interessados para os ingressos que sobraram, foi a Marrakesh num grupo de cerca de 50 pessoas, mas a cidade marroquina já se esgotou. Cada rua tem a lembrança de um jogo que eles querem esquecer. A fossa? Vão curtir em Paris. Já mudaram as passagens e partem nesta sexta.
- Vamos embora para voltarmos no ano que vem com o Galo - decretou André. 
Atleticanos deixam Marrakesh
A decisão dos rapazes que venderam ingressos a Dine é a mesma de um grande número de atleticanos. Outro grupo de fanáticos revelou que já havia feito o mesmo com torcedores do Raja. Também dizem não ter ganhado um centavo a mais e agora decidem se vão para a Europa ou conhecerão outras cidades do Marrocos.
Marrakesh saiu da euforia atleticana. Os gritos de “Galo”, que ecoavam por cada rua, desapareceram nesta quinta. Até mesmo pontos turísticos mais famosos como a Medina ficaram às moscas. Só houve lugar para a imensa euforia dos torcedores do Raja, que viraram a noite em uma festa insana, com direito a pulos em cima dos carros em movimento.
Em 2010, ano de outro vexame brasileiro no Mundial, quando o Internacional perdeu para o Mazembe, da República Democrática do Congo, na semifinal, a imensa maioria dos colorados não abriu mão de ver as partidas finais. 
Mas há explicações. Eles estavam hospedados em Dubai e iam para Abu Dhabi apenas para os jogos. Ambas as cidades ficam nos Emirados Árabes Unidos, local de difícil acesso a outros países turísticos. Diferentemente do Marrocos, muito próximo da Espanha e de fácil entrada na Europa.

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