24 de out. de 2013

Fla vive noite de guerra política e se divide sobre ‘pizza’ nas contas de Patricia Amorim

Ex-presidente discursou em plenário, se emocionou e prometeu ir a Justiça por danos morais Foto: Diogo Dantas /
Quase um ano depois da eleição, o Flamengo viveu uma noite de guerra política na Gávea, na última terça-feira. No centro das atenções, de novo Patricia Amorim. Em reunião de cinco horas com direito a choro, dedo em riste, troca de empurrões, xingamentos e muita confusão entre situação e oposição, até de torcidas organizadas, a ex-presidente foi absolvida no plenário do Conselho Deliberativo, após ser acusada de não prestar contas de R$ 1,6 milhão do exercício 2011.
Com o placar de 170 a 133, e 11 abstenções, os conselheiros optaram por arquivar o caso, e agora o Conselho será convocado para aprovar o balanço financeiro daquele ano. Além de Patricia, os demais acusados apresentaram suas defesas com documentos não encontrados nem pela auditoria nem pela comissão de finanças. No fim, com direito a cordão de 30 seguranças, além de Patricia Amorim, Michel Levy, Leonardo Ribeiro e o contador William Pereira também foram absolvidos.
— A comissão cumpriu seu objetivo em função do que a auditoria nos trouxe. Mas a auditoria não conseguiu chegar a uma série de documentos. O vice-presidente da Patricia, o Helio Ferraz, o Fernando, marido dela, e o contador William, obtiveram esses documentos. O certo seria não ter havido a reunião. Seria adiar para os documentos serem novamente avaliados, e esses 1,6 milhão estariam cobertos — explicou o presidente da comissão de finanças, Moyses Akerman, que se absteve da votação.
— Nós da comissão não tinhamos acesso aos documentos. Apenas a auditoria. Nesse momento queriamos que a sessão fosse adiada, até eles serem examinados. Eu poderia mudar o parecer uma semana depois com os auditores aprovando. Houve um erro de interpretação. No meu sentimento, o assunto está encerrado. Não acho que acabou em pizza — declarou.
O presidente do Conselho Deliberativo, Delair Drumbrosk, não concorda. Segundo o principal aliado da atual diretoria, que sofreu dura derrota, a ideia da reunião era aprovar o parecer para que em seguida os acusados apresentassem sua defesa em nova convocação. Diante da confusão e da troca de acusações e até ameaça de ação cível e criminal por parte de Patricia Amorim, Delair avaliou que a decisão foi política e não técnica.
— Eles deviam ter usado as oportunidades para falar sobre o relatório. Ameaça não é defesa. O relatório não foi avaliado. O pessoal chegou com papel dizendo que era comprovante. A decisão foi política. A maioria resolveu não acatar o trabalho da comissão, é um direito que eles têm. A reunião não era para julgar. Era para apreciar o parecer. Se concordassem todos iam ser chamados, fazer suas defesas, apresentar documentos se tivessem. Ninguém afirmou que a Patricia sumiu com dinheiro. Apenas mostraram os depoimentos. A comissão trabalhou com liberdade, dada por mim e pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello — explicou Delair, que sentiu cheiro de pizza, sim.
— Para a comissão ficou ruim, pois não viu seu trabalho prosseguir. Se tivesse aprovado e todos fossem chamados, como no Mensalão, poderia ter gente absolvida. Agora fica a sensação de que acabou em piza, que as pessoas não foram punidas, que dinheiro sumiu — lamentou o presidente do Conselho.
Um dos acusados, o ex-presidente do Conselho Fiscal, Leonardo Ribeiro, avaliou a decisão do plenário.
— Foi o início do fim. Foi como a batalha de Stalingrado. Ano que vem será Paris e 2015 será Berlim. O Flamengo estará libertado. Eles vem tomando posições de exclusão nazifascistas, que vão contra a tradição do clube. O que houve foi desorganização, não desonestidade. Eles disseram, e não provaram. Agora vão responder na Justiça. A comissão se baseou no relatório de uma auditoria fraca. Foi a maior defesa dos acusados. Tinha quase 1 milhão ordem de pagamento bancário. Não tinha a nota, apenas.O Delair foi um dos grandes derrotados. Ele que tinha pretensões políticas em dois anos vai ficar fora do processo. Ele deixou irritado oposição e governo. E ressuscitaram a Patricia, ela volta a ter força. Agora existe o pior dos mundos para atual gestão, que depende de aliança com o Marcio Braga — disse o Capitão Léo.
A ex-presidente Patricia Amorim não foi encontrada para comentar a decisão do Conselho Deliberativo. Segundo o presidente da Comissão de Finanças, Patricia merecia uma retratação.
— Ela merece todo respeito. Me abstive da voitação porque entendi que naquele momento não tinha condições de julgar. Eu como presidente da comissão pedi a palavra, o que não foi possível. Não posso dizer que Patricia, Michel e William estão errados porque eles trouxeram documentos. Duvido que estejam errados. Talvez foi uma incompetência de alguém. Não há nenhuma infração estatutária nos gestores daquele exercício. A Patricia merece uma reparação. Eu até me propus se ela o quiser eu farei. Pela imprensa ou onde quiser. Respeito como pessoa e presidente. Disse isso a ela — afirmou Moyses Akerman.
Da atual gestão, compareceram à votação ao lado do presidente Eduardo Bandeira de Mello os vice-presidentes Rafael Strauch, do Fla-Gávea, Alexandre Póvoa, dos Esportes Olímpicos, Flavio Willeman, do Jurídico e Plinio Serpa Pinto, de Relações Externas (xingado de ladrão pelo desembargador e conselheiro Ciro Darlan). Alexandre Wrobel, vice de patrimônio atual e da última administração, votou pelo arquivamento do parecer. Os vice-presidentes Luiz Eduardo Baptista, do marketing, Wallim Vasconcellos, do Futebol, e Rodrigo Tostes, de Finanças, não compareceram.
Os fatos
Investigação
O Conselho Deliberativo do Flamengo montou uma comissão de finanças e contratou uma auditoria para analisar as contas de 2011, da gestão Patricia Amorim.
Gastos sem prova
A auditoria encontrou inicialmente R$ 7 milhões em gastos não comprovados. Depois, o valor caiu para R$ 1,6 milhão, chegando a R$ 500 mil quarta-feira.
Os acusados
Além de Patricia Amorim, o vice de finanças Michel Levy, o contador William Pereira dos Santos e o ex-presidente do Conselho Fiscal Leonardo Ribeiro estavam entre os acusados.
Audiências
A comissão de finanças ouviu os acusados e encaminhou ao Conselho Deliberativo um parecer solicitando a abertura de processo disciplinar para apurar os gastos não comprovados. Em votação na quarta, os acusados foram absolvidos com 170 votos contra o parecer e 133 a favor.


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