17 de out. de 2013

Acusados falam em 'linchamento político' e negam irregularidades

Leonardo Ribeiro Flamengo (Foto: Felippe Costa/Globoesporte.com)Ex-presidente do Conselho Fiscal, Leonardo
Ribeiro vê erro na comissão (Foto: Felippe Costa)
Acusados no parecer entregue na segunda-feira pela comissão de inquérito criada pelo Conselho Deliberativo do Flamengo para apurar R$ 7,3 milhões em adiantamentos sem comprovação nas contas de 2011, a ex-presidente Patrícia Amorim, seu vice de finanças, Michel Levy, o controller contratado pela gestão em 2012, William Pereira dos Santos, e o ex-presidente do Conselho Fiscal Leonardo Ribeiro podem sofrer sanções disciplinares, já que R$ 1,6 milhão continua sem documentação. Ribeiro alega que sua inclusão entre os acusados é um equívoco e que todo o trabalho de investigação partiu do Conselho Fiscal em sua gestão. William, por sua vez, acusou o antigo contador do clube, Rogério Tosca da Encarnação, e afirmou que chegou para "apagar incêndio", declarando ainda que jamais observou "má-fé", somente "bagunça". Tosca também disse não ter notado desonestidade, apenas "falta de capacidade administrativa" - ele não está entre os acusados pois não faz parte do quadro social do Flamengo.
A decisão agora caberá ao Conselho Deliberativo, que votará na próxima terça-feira a aprovação, ou não, do relatório. Ratificadas as conclusões da comissão de inquérito, será criada uma nova comissão disciplinar para apontar as penalidades. O parecer cita infrações graves, como a comprovação de contas com notas frias e uso de nome de funcionários sem autorização para liberar adiantamentos de verba. A comissão disciplinar, se for criada, deverá ter 60 dias para trabalhar e colher novos depoimentos dos envolvidos para, então, fornecer novo parecer estipulando as penalidades. Esse documento deverá ser analisado no Deliberativo, no caso de Michel Levy, e no Conselho de Administração para Amorim, William e Ribeiro, todos sócios eméritos e beneméritos.
Capitão Léo diz que sua inclusão é equívoco
Ex-presidente do Conselho Fiscal, responsável por aprovar o balanço de 2011, que ficou com pendências não resolvidas no Deliberativo, Leonardo Ribeiro afirmou que sua inclusão entre os acusados é um equívoco. Segundo Ribeiro, a auditoria ocorreu com base no trabalho do poder que presidia.
Fui colocado em um arquivo que alega que fui omisso. Como fui omisso se as contas foram reprovadas? Espero que tudo seja sanado até o dia da votação e a comissão repare esta questão em relação a minha pessoa"
Leonardo Ribeiro
- O meu caso é um equívoco da comissão de inquérito. Tudo isso que está acontecendo é graças ao trabalho do Conselho Fiscal e da equipe. Em votação unânime, demos início a todo esse processo. A auditoria aconteceu com base no trabalho do conselho. Fui colocado em um arquivo que alega que fui omisso. Como fui omisso se as contas foram reprovadas? Espero que tudo seja sanado até o dia da votação e a comissão repare esta questão em relação a minha pessoa. Estou preparado para todos os esclarecimentos.
Questionado sobre as notas frias apontadas pelo parecer da comissão de inquérito, ele deu a sua versão:
- Era algo que estava no nosso relatório. O relator foi Sebastião Pedrazzi (ex-vice de finanças do clube). Essa empresa fez as festas dos últimos cinco anos no Flamengo. Se não tem uma nota dessas, a festa existiu. Compraram o churrasco, a cerveja... Se colocaram nota de balcão, é coisa pequena para ficar lembrando. O evento aconteceu.
Controller fala em linchamento político
O ex-controller do clube, William Pereira dos Santos, esclareceu que só foi contratado em março de 2012 para tentar solucionar os problemas. Ele afirmou que o Deliberativo é um órgão político, que estaria promovendo uma tentativa de "linchamento" da ex-presidente Patrícia Amorim.
- O Conselho Deliberativo é um conselho político, nunca foi um órgão técnico. Existe uma comissão formada pelo Deliberativo para analisar as contas de 2011, o intuito é um linchamento político da Patrícia. Não tem nada de técnico, será uma reunião política. O Michel Levy contratou um contador que era um irresponsável. Só recebia do Flamengo, chegada às 16h, 16h30 e saía às 18h, ficava só de papo. Eu fui contratado em março do ano passado, várias pessoas pediram a minha contratação. Cheguei para apagar incêndio, com o balanço já fechado e assinado pelo contador. O que ele não assinou foi um balanço ajustado pelo Conselho de Administração. Até por uma questão de vaidade, era um atestado que o balanço dele estava todo errado.
A Patrícia, queira ou não, é uma liderança forte se ela quiser dentro do Flamengo, e querem acabar com essa liderança, ficar
absolutos. É uma vergonha. Tenho vontade de não aparecer mais no Flamengo, é uma politicagem
suja, nojenta"
William Pereira dos Santos
William foi veemente ao dizer que não havia desonestidade no clube e afirmou que, para comprovar os gastos, basta ver para onde o dinheiro foi.
- Tudo que o Conselho Fiscal pediu foi cumprido. Tudo, tudo. Alegam que tem R$ 1,6 milhão sem comprovação, o que é um absurdo. Foi tudo entregue, só que esses documentos voltaram para a contabilidade e foram arquivados. Alegam que não tem, mas toda a documentação está lá. Não houve qualquer irregularidade. O dinheiro saiu do Flamengo e foi para onde? Está na conta de algum dirigente? É só ver para onde o dinheiro foi. Por exemplo, hospedou no hotel tal. Fui lá e verifiquei que havia depósito. Não há irregularidade. É um parecer meramente político, não tem nada de técnico. A Patrícia pode ser acusada de tudo, menos de desonesta. O que existia era uma bagunça por conta do contador.
Sobre as notas frias, ele deu sua versão:
- Essas notas eu não vi e não me lembro. O que eu fiz quando vi os R$ 7 milhões, saí correndo e fui a todos os departamentos que tinham adiantamentos. Vimos coisas do arco da velha, documentos de contabilidade engavetados, o funcionário não tinha o cuidado de pegar aquilo e levar para a contabilidade para dar baixa. Uma bagunça. Mas não vi desonestidade. Querem um linchamento político. Eu faço parte da política do Flamengo há 40 anos, nunca vi um candidato ser derrotado com mais de 900 votos. A Patrícia, queira ou não, é uma liderança forte se ela quiser dentro do Flamengo, e querem acabar com essa liderança, ficar absolutos. É uma vergonha. Tenho vontade de não aparecer mais no Flamengo, é uma politicagem suja, nojenta. Só o presidente dessa comissão é conhecido, o resto é uma garotada nova que foi colocada para procurar chifre em cabeça de burro. Não tem nada de irregular, só bagunça. Então vamos consertar. O contador full-time que indiquei, o Liberato Lima, está lá até hoje. A contabilidade era uma bagunça. A recompensa é essa.
Contador confia no Deliberativo
O contador Rogério Tosca da Encarnação foi informado do teor das declarações de William, mas preferiu não rebater. Afirmou que o Deliberativo é capaz de analisar as questões e tomar as medidas que julgar necessárias, ressaltando sua torcida para que não haja "aspectos punitivos".
Eu estou torcendo para que tudo saia bem, de preferência que não haja nenhum aspecto punitivo, porque no tempo em que lá estive não vi nenhuma má-fé"
Rogério Tosca da Encarnação
- Nada a falar, porque todos os assuntos pertinentes a esse expediente já foram objeto de análise do Conselho Deliberativo. Foi tomado o depoimento de todos, também desses que possivelmente possam estar arrolados com pendências. Nada disso tem sentido, o disse-que-disse. O que vale são as oficializações dos depoimentos e o que resultou disso. O Conselho Deliberativo é capaz de tomar as decisões sobre o que possa ser apurado. Sobre a notícia, não tenho nada a contribuir.
Ele assegurou não ter observado situações de má-fé na antiga gestão:
- Eu estou torcendo para que tudo saia bem, de preferência que não haja nenhum aspecto punitivo, porque no tempo em que lá estive não vi nenhuma má-fé. Não tive esse sentimento. Uma falta de capacidade administrativa, vamos chamar assim. A tendência é ser esclarecido em cima de dados a serem comprovados. Torço para que tudo saia bem.
A reportagem do GLOBOESPORTE.COM tentou contato com os telefones celulares de Patrícia Amorim, que não atendeu e não dispunha de secretária eletrônica, e Michel Levy, que estava fora de área - foi deixado recado para o ex-vice de finanças.

Nenhum comentário: