20 de set. de 2013

Turma da mureta dá recado a técnico: ‘Se não for gente boa, vai sofrer’

Todos os jogos do Flamengo depois da reabertura do Maracanã eles fazem tudo sempre igual. Os torcedores se postam nas cadeiras próximas ao banco de reserva e, até quinta-feira à noite, interagiam com Mano Menezes, que sorria, brincava e pedia calma quando as cobranças aumentavam. Começava ali a relação do técnico com a “turma da mureta”, que percebeu um Mano nervoso, impaciente e sem ser correspondido por alguns jogadores na derrota por 4 a 2 para o Atlético-PR. O resultado fez com que o treinador pedisse demissão.  A separação de poucos metros entre a torcida e campo promete novos capítulos, independentemente de quem assuma o time. Mas os torcedores já dão o recado para o novo comandante.
No jogo diante do Furacão, o professor de Física Carlos Ferrão, 38 anos, caprichou na criatividade e se fantasiou de comentarista com direito a Mesa Tática, da Rede Globo (veja vídeo abaixo). Mal sabia ele que seria o último contato com o “amigo” Mano. Frequentador assíduo das cadeiras próximas ao banco do Flamengo, Carlos dá a dica para o sucessor no cargo de técnico.
- O Mano era um cara que respeitava a gente e brincava muito. Sempre interagia. Às vezes, não concordava com o que o pessoal reclamava, mas sempre nos tratava bem. Era uma relação de respeito. O próximo técnico que chegar tem que ser gente boa, senão está ferrado. Você já foi naquela área da mureta lá no Maracanã?! É muito perto. Se não for gente boa, vai sofrer. Ali tem uma galera que nem gosto muito da postura, que só corneta e xinga. Essa é a parte que não é legal. Ali é um lugar para brincar com o técnico. Estaremos com o próximo treinador, mas ele precisa ser gente boa e respeitar a turma da mureta – avisou o professor de Física e comentarista do grupo.
Torcedores do Flamengo da turma da Mureta: Thales Coutinho e Carlos Ferrão (Foto: Arquivo Pessoal)Thales Coutinho e Carlos Ferrão engrossam o time de "auxiliares" do Fla (Foto: Arquivo Pessoal)
Durante o jogo com o Atlético-PR, depois da euforia inicial com 2 a 0 no placar, a turma percebeu um Mano diferente, nervoso e que ficou sentado no banco sem aparecer na área técnica depois do gol de empate, no segundo tempo.
Thales Coutinho, um dos principais “auxiliares” do ex-treinador, percebeu as alterações que vinham do banco.
- Ele pegou uma garrafa de água e jogou no chão. Estava estressado, impaciente. A galera da mureta vai sentir falta, pois o Mano interagia legal com a gente – afirmou Thales, que se tornou um velho conhecido do técnico, desde o jogo contra o Fluminense, quando o Rubro-Negro venceu por 3 a 2, no dia 11 de agosto, dia em que passou as primeiras instruções.
Coincidência ou não, na oportunidade ele gritou pedindo uma mudança, que foi ouvida e atendida pelo técnico. Começava ali a "parceria". Thales destaca que Mano não é o principal culpado:
- Não é ele mesmo. Como o Mano ia fazer omelete sem ovos? Com esse elenco fica difícil. Tinha jogador andando em campo no segundo tempo contra o Atlético-PR. Temos que cobrar raça e disposição dos jogadores, e muitas vezes não temos visto isso.
Talvez a declaração do torcedor seja um indício das novas ações da “turma da mureta”. Mano vai deixar saudade e também uma pulga atrás da orelha dos torcedores, como o fato notado pelo “comentarista” Carlos Ferrão na partida com o Furacão.
- Dali de perto a gente percebia que Mano falava, e os jogadores não faziam. Nesse jogo (Atlético-PR), ele olhou poucas vezes para a mureta. Estava com uma expressão diferente. Deu para perceber tanto essa falta de obediência e quando cheguei em casa e vi que ele tinha pedido demissão, logo entendi o motivo. Teve um lance que o Paulinho pediu para sair, mas o Mano tirou o Rafinha. O Paulinho ficou olhando, não entendeu nada, e depois virou as costas e deu ombros para o técnico, tipo como se fosse um dane-se. Ali deu para ver claramente isso – revelou o torcedor, que faz questão de dizer que o espaço que ocupa no Maracanã é “uma espécie de Geral que estamos resgatando”.
Mano Menezes ouve conselhos da 'turma da mureta' (Foto: Reprodução SporTV)Mano Menezes ri ao ouvir conselhos da turma da
mureta contra o Santos (Foto: Reprodução SporTV)
A relação entre Mano e a turma da mureta se encerrou na noite de quinta-feira, sem ao menos uma despedida. Durante os dias e noites de trocas de informações e olhares, o ex-treinador do Flamengo chegou a comentar:
- Só não gosto de chato, porque chato é chato em qualquer lugar, na beirada do campo, perto de casa, vizinho, qualquer um. Chato é chato. Mas o torcedor tem sido muito legal.
O Flamengo voltará a jogar no Maracanã no dia 29, diante do Criciúma. A turma da mureta estará lá. Resta saber quem estará à beira do campo com os ouvidos preparados para as instruções. Afinal, como filosofou Mano, o torcedor tem sido legal, mas chato é chato em qualquer lugar.
* Com Raphael Bozeo, estagiário.

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