Todos os jogos do Flamengo depois da reabertura do Maracanã eles fazem tudo sempre igual. Os torcedores se postam nas cadeiras próximas ao banco de reserva e, até quinta-feira à noite, interagiam com Mano Menezes, que sorria, brincava e pedia calma quando as cobranças aumentavam. Começava ali a relação do técnico com a “turma da mureta”, que percebeu um Mano nervoso, impaciente e sem ser correspondido por alguns jogadores na derrota por 4 a 2 para o Atlético-PR. O resultado fez com que o treinador pedisse demissão. A separação de poucos metros entre a torcida e campo promete novos capítulos, independentemente de quem assuma o time. Mas os torcedores já dão o recado para o novo comandante.
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No jogo diante do Furacão, o professor de Física Carlos Ferrão, 38 anos, caprichou na criatividade e se fantasiou de comentarista com direito a Mesa Tática, da Rede Globo (veja vídeo abaixo). Mal sabia ele que seria o último contato com o “amigo” Mano. Frequentador assíduo das cadeiras próximas ao banco do Flamengo, Carlos dá a dica para o sucessor no cargo de técnico.
- O Mano era um cara que respeitava a gente e brincava muito. Sempre interagia. Às vezes, não concordava com o que o pessoal reclamava, mas sempre nos tratava bem. Era uma relação de respeito. O próximo técnico que chegar tem que ser gente boa, senão está ferrado. Você já foi naquela área da mureta lá no Maracanã?! É muito perto. Se não for gente boa, vai sofrer. Ali tem uma galera que nem gosto muito da postura, que só corneta e xinga. Essa é a parte que não é legal. Ali é um lugar para brincar com o técnico. Estaremos com o próximo treinador, mas ele precisa ser gente boa e respeitar a turma da mureta – avisou o professor de Física e comentarista do grupo.
Durante o jogo com o Atlético-PR, depois da euforia inicial com 2 a 0 no placar, a turma percebeu um Mano diferente, nervoso e que ficou sentado no banco sem aparecer na área técnica depois do gol de empate, no segundo tempo.
Thales Coutinho, um dos principais “auxiliares” do ex-treinador, percebeu as alterações que vinham do banco.
- Ele pegou uma garrafa de água e jogou no chão. Estava estressado, impaciente. A galera da mureta vai sentir falta, pois o Mano interagia legal com a gente – afirmou Thales, que se tornou um velho conhecido do técnico, desde o jogo contra o Fluminense, quando o Rubro-Negro venceu por 3 a 2, no dia 11 de agosto, dia em que passou as primeiras instruções.
Coincidência ou não, na oportunidade ele gritou pedindo uma mudança, que foi ouvida e atendida pelo técnico. Começava ali a "parceria". Thales destaca que Mano não é o principal culpado:
- Não é ele mesmo. Como o Mano ia fazer omelete sem ovos? Com esse elenco fica difícil. Tinha jogador andando em campo no segundo tempo contra o Atlético-PR. Temos que cobrar raça e disposição dos jogadores, e muitas vezes não temos visto isso.
Talvez a declaração do torcedor seja um indício das novas ações da “turma da mureta”. Mano vai deixar saudade e também uma pulga atrás da orelha dos torcedores, como o fato notado pelo “comentarista” Carlos Ferrão na partida com o Furacão.
- Dali de perto a gente percebia que Mano falava, e os jogadores não faziam. Nesse jogo (Atlético-PR), ele olhou poucas vezes para a mureta. Estava com uma expressão diferente. Deu para perceber tanto essa falta de obediência e quando cheguei em casa e vi que ele tinha pedido demissão, logo entendi o motivo. Teve um lance que o Paulinho pediu para sair, mas o Mano tirou o Rafinha. O Paulinho ficou olhando, não entendeu nada, e depois virou as costas e deu ombros para o técnico, tipo como se fosse um dane-se. Ali deu para ver claramente isso – revelou o torcedor, que faz questão de dizer que o espaço que ocupa no Maracanã é “uma espécie de Geral que estamos resgatando”.
A relação entre Mano e a turma da mureta se encerrou na noite de quinta-feira, sem ao menos uma despedida. Durante os dias e noites de trocas de informações e olhares, o ex-treinador do Flamengo chegou a comentar:
- Só não gosto de chato, porque chato é chato em qualquer lugar, na beirada do campo, perto de casa, vizinho, qualquer um. Chato é chato. Mas o torcedor tem sido muito legal.
O Flamengo voltará a jogar no Maracanã no dia 29, diante do Criciúma. A turma da mureta estará lá. Resta saber quem estará à beira do campo com os ouvidos preparados para as instruções. Afinal, como filosofou Mano, o torcedor tem sido legal, mas chato é chato em qualquer lugar.
* Com Raphael Bozeo, estagiário.
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