11 de set. de 2013

Presidente do Fluminense admite desgaste com Unimed: 'Tenho a cada dia menos contato com o Celso'

Ao descobrir que seu vice de futebol, Sandro Lima, recebia salário da Unimed, o presidente do Fluminense, Peter Siemsen, viu sua relação com o patrocinador sofrer novo desgaste. O arranhão vai deixar marcas. A dois meses da eleição para presidência do clube, o dirigente pode ter perdido definitivamente o apoio do patrocínio, caso decida ser candidato. Peter, que já vinha tentando organizar o Fluminense para livrá-lo da dependência da Unimed, não esconde a decepção com o vínculo estabelecido entre Sandrão e o patrocinador Celso Barros, denunciado em reportagem da ESPN: "Isso lesou a confiança na relação", diz.
Você não sabia que Sandro Lima, seu vice de futebol, recebia salário da Unimed?
Fiquei surpreso. É claro que eu já tinha ouvido um zunzunzum no clube. Perguntei várias vezes ao Sandrão, e a resposta sempre foi "não".
Nunca cobrou essa resposta do Celso Barros, presidente da Unimed?
Tenho a cada dia menos contato com o Celso. Nossa relação funciona porque trabalhamos pelo clube. Mas não existe uma relação pontual.
Essa má relação não atrapalha o clube?
Não afeta porque, na verdade, o Celso não vai ao clube. E eu trato todos com carinho. Mas eu não queria a demissão do Abel. Abri mão e estou apoiando. Mas em outras vezes eu disse "não, não e não". E foi "não".
Você foi traído pelo Celso e o Sandrão?
Não gosto dessa palavra. Se levo tudo a ferro e fogo, não consigo impor a estruturação. Mas foi muito chato para mim. Não quero guardar rancor. Ao menos, Sandrão teve dignidade ao renunciar. Eu já vinha pressionando-o. Quando tive certeza, ele me confirmou por telefone. E tivemos que sentar. Numa situação dessas, você tem que cobrar.
A escolha do Sandrão para a vice-presidência de futebol foi do Celso?
Ele era vice de esportes olímpicos e tornou-se vice de futebol diante da crise que estourou quando mandei embora o Alcides Antunes e, por causa disso, entrei num conflito enorme com o Celso. Ele não queria abrir mão do Alcides Antunes. A partir dali, minha relação com o Celso nunca foi a mesma.
Então, o Celso impôs o nome do Sandrão?
Existe uma situação... O Sandrão já tinha uma relação muito grande com o Celso. Eu cheguei depois, quando a Unimed já estava lá. Eu queria manter a relação amistosa. Na minha leitura, a boa relação do Sandrão com o Celso era uma vantagem para mim, pois eu poderia trabalhar com o clube em paz.
O vínculo do Sandrão com a Unimed, descoberta agora, pode ter lesado de alguma forma o Fluminense?
Não lesou o clube. Mas lesou a confiança na relação.
Os cargos no futebol deveriam ser remunerados?
Acho um erro haver cargos não remunerados. No clube, se o objetivo é o lazer dos sócios, tudo bem. Mas o futebol é um mercado de alta sofisticação. Eu pretendia resolver essa situação no segundo mandato, propondo uma assembleia geral para discutir o assunto.
Por que diz que pretendia? Não será candidato na eleição de novembro? Na tomada de decisão, levará em conta o desgaste na relação com a Unimed, causado pelo vínculo do Sandrão?
Vou levar em conta, mas não sei. Parece que estou brigando com o mundo. As regras tributárias no Brasil mudam a toda hora. Sou presidente pela paixão e não ganho nada. Na verdade, estou perdendo. Quando o Fluminense perde em sequência, você acha que quero ir para o restaurante com meus filhos?
Você é advogado da Unimed?
Fui, mas, pessoalmente, abri mão da conta. E outros sócios do escritório assumiram. Eu me afastei de algumas contas, mas não podia prejudicar os sócios.
E se tivesse que tomar a decisão hoje sobre disputar ou não a eleição?
Hoje, provavelmente, eu tomaria ainda a decisão de concorrer. Resolvendo a questão fiscal, o Fluminense vai impressionar muita gente. Essa é uma guerra que não termina. Mas acredito no fim dela a curto prazo.
Acha que, se for candidato, há alguma chance de ter ainda o apoio do Celso Barros?
Você tem que perguntar isso pra ele. Do jeito como ele vem conduzindo, tenho dúvidas. Tenho sérias dúvidas...
O Fluminense pode sobreviver sem a Unimed?
É importante a gente criar uma condição para o clube, no futuro, continuar sem a Unimed, caso ela queira sair um dia. E eu vou atingir esse objetivo. A questão fiscal vai ser resolvida. A base do Fluminense nunca esteve dentro do projeto. A base é um tesouro guardado. Não é o caso de se investir na base para tirar a Unimed do clube. A ideia é que se tenha um tesouro caso a Unimed saia. Mas, você quer que eu te fale a verdade? Acho que ele (Celso) não sai. O Celso tem uma paixão por isso. Tanto pela marca, como pelo envolvimento.
Você vai mesmo acumular a vice-presidência de futebol?
O que vou fazer? Teremos uma eleição... Vou botar outro no cargo e aumentar o conflito político? Botar outra pessoa no vestiário? Não é o momento. Rodrigo Caetano vai adquirir um peso maior agora.
Rodrigo Caetano deve sair do Fluminense no ano que vem?
Eu gostaria muito que ele ficasse. Se eu continuar na presidência, uma das condições é que ele fique. Não há profissionais como ele no mercado. Tive dificuldades com ele? Caramba! No futebol é tudo difícil. Quem não teve? Tenho uma confiança nele muito grande. É o meu ponto de referência.
A saída do Sandrão trará algum abatimento ao grupo?
Vou fazer uma analogia: as pessoas me falaram que seria um desastre a saída do Emerson Sheik. E o time fez uma partida sensacional contra o Argentino Juniors. Quando o Alcides saiu, o desempenho até melhorou. O time não joga pelas pessoas, mas por si. Os jogadores têm caráter. A saída do Sandrão não turbina nem esvazia.
Conca voltará para o Fluminense?
Não falta vontade. Antes de tudo, o Fluminense terá que estar alinhado à Unimed (risos).
A foto é de Marcos Arcoverde


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