5 de set. de 2013

Michael, do Fluminense, é suspenso por 16 meses pelo STJD por doping

Foi uma tarde intensa. No início ansiedade e preocupação eram facilmente notados. Durante as quase duas horas de julgamento, tristeza e emoção à flor da pele ao ouvir a contundente defesa armada pelo advogado do Fluminense, Mário Bittencourt. As lágrimas caíram com facilidade. No fim, elas continuaram a rolar pelo rosto de Michael, mas desta vez com o resultado que pode ser considerado uma vitória. Em vez da pena base de dois anos, o atacante está suspenso  pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por 16 meses após ser flagrado no exame antidoping pelo uso de cocaína. A pena pode ser reduzida para oito meses caso ele siga uma série de requisitos feitos pelo tribunal, como palestrar falando da prevenção ao uso das drogas, fazer exames e comprovar que não teve uma recaída. A vitória porém não foi unânime com a votação terminando em 4 a 2.
Michael chorando fluminense (Foto: Rafael Cavalieri)Michael e o pai choram durante o julgamento por doping do atacante do Fluminense. Eles se emocionaram durante a o discurso do advogado de defesa do jogador, Mário Bittencourt. (Foto: Rafael Cavalieri)
A notícia foi comemorada com emoção. Como já cumpriu 110 dias da pena por vontade própria, se cumprir as exigências Michael pode voltar a jogar em 4 meses e dez dias. Presente ao lado do pai, da mãe e da irmã de oito anos, que teve de se retirar durante o julgamento, Michael não deu depoimento. Mas acompanhou tudo com atenção e emoção.
O relator do caso, Dr. Décio Neuhaus, pediu que o jogador recebesse uma pena inicial de 16 meses (dois terços da pena máxima de dois anos) baseado em uma regulamentação da Fifa para jogadores jovens. O primeiro auditor Dr. Ronaldo Botelho seguiu o relator, assim como o Dr. Gabriel Júnior e o vice-presidente do STJD, Dr. Caio César. Já o terceiro auditor, Dr. Paulo César Salomão, discordou dizendo que não sente pena do atleta e pediu a pena máxima de dois anos, podendo ser reduzida para um ano, caso Michael seguisse os requisitos do tribunal. O presidente Flavio Zveiter seguiu o voto do Dr. Salomão. Zveiter disse querer acompanhar o relator, mas não concordava com o precedente jurídico exposto.
Defesa expõe lado humano e diz que inatividade seria prejudicial
A tônica da defesa foi que a inatividade seria o caminho de volta de Michael até a cocaína. Mário Bittencourt convocou os médicos Michael Simoni e Gabriel Bronstein para comentar como se desenvolve a dependência além de comentar como anda a recuperação do atacante. O primeiro a ser ouvido pela defesa foi Simoni, que já trabalhou no Fluminense. Ele seguiu a estratégia traçada e exaltou a importância do esporte no tratamento de um usuário de droga, e que a cocaína não traz benefícios ao atleta.
- O uso da cocaina não dá ganho de desempenho, pelo contrário, gera prejuízo. Além do risco de morte. Entendendo como doença a cura vem com tratamento psiquiátrico e a parte esportiva como estímulo. Para tentar ter algum benefício com cocaína, teria que se consumir antes do jogo e isso não existe - disse o médico.
Bronstein é quem vem tendo contato diariamente com Michael. Ele é o psquiatra responsável pela clínica que Michael está internado, como revelou na última semana o GLOBOESPORTE.COM. Ele citou o fato de o próprio jogador ter pedido a internação já que estava próximo de ter uma recaída em função da solidão e do ócio em casa.
Michael chorando fluminense (Foto: Rafael Cavalieri)Michael recebe o carinho da irmã após o resultado do julgamento. Atacante chorou e comemorou muito o resultado. Se tudo correr bem, ele volta aos gramados no começo de 2014. (Foto: Rafael Cavalieri)
- Quando foi notificado o uso, foi pedido o início do tratamento. No momento, ele se encontra internado e é acompanhado diariamente por uma equipe. Ele apresentou sintomas depressivos no período anterior a sua internação, já depois do laudo. Ele está progredindo muito e tem se beneficiado, entendido o problema e como deve enfrentar. O caso dele não é dependência e sim de uso nocivo, mas o tratamento vai pelos mesmos caminhos - explicou o Dr. Bronstein.
Questionado, o psquiatra foi mais detalhista sobre como tem sido a rotina de Michael na clínica e o que será feito na continuação do tratamento.
- Seriam 30 dias o primeiro período de internação. Ele está com 22 dias hoje. A internação foi um pedido do próprio atleta sentindo que estava em risco. O caso dele ainda é considerado uso nocivo, mas esteve muito próximo da dependência quimica. Por isso ele tem dormido lá e tido acompanhamento diário. Antigamente eu o via de 15 em 15 dias. Agora o tratamento é mais intenso e em breve ele poderá deixar a clínica durante o dia, realizar suas atividades e voltar para lá - revelou o psquiatra.
Ao tomar a palavra, o advogado Mário Bittencourt citou ex-jogadores que tiveram problemas com drogas e que poderiam ter as carreiras abreviadas em caso de longas punições. Além disso, recitou a música "Há Tempos", de Renato Russo na qual o cantor relaciona o uso de cocaína com tristeza, solidão e ócio, fatores presentes na vida de Michael. Por fim, disse ter lido a biografia de Casagrande, que relata como cheogu no fundo do poço e que revela ter iniciado o de drogas ainda jovem.
- Os médicos foram claros que o tempo ocioso fará e fez com que ele buscasse a droga. As atitudes dele mostram que merece ser recuperado. Deixar mais tempo alijado do trabalho aumenta o risco de ser um dependente químico.Temos de salvar esse atleta. Para sorte do Michael ele foi flagrado no doping. O doping salvou o Michael - finalizou o advogado.
Veio a votação, seguida de bastante debate. Michael balançava as pernas ao lado dos familiares e de mais membros do Fluminense como o coordenador médico Victor Favilla, da advogada Roberta Fernandes e de Marcelo Penha. Mas no fim a sentença foi considerada favorável e as lágrimas foram de alegria. Abraços, beijos e a impressão de ter renovado as energias para conseguir cumprir o combinado e voltar a ter alegrias com a bola no pé e a vida limpa.
Entenda o caso
Michael foi pego no exame antidoping no começo deste ano pelo uso de cocaína. O atacante está sem atuar desde o dia 5 de maio, na derrota para o Botafogo na final da Taça Rio, em Volta Redonda. Ele foi pego após a partida contra o Resende, pelo returno do Carioca deste ano, na qual o Fluminense venceu por 2 a 0, com um gol seu. Michael assumiu que fez uso da droga. Ele cumpriu suspensão voluntária enquanto aguardava o julgamento pelo TJD-RJ. No começo de agosto o STJD definiu, por unanimidade, que o tribunal estadual lhe enviasse os autos do processo devido a demora.

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