16 de set. de 2013

Mano Menezes garante: ‘Flamengo não cai’

Mano Menezes considera demagogia a discussão sobre o terceiro cartão de Elias
Mano Menezes considera demagogia a discussão sobre o terceiro cartão de Elias Foto: Fábio Teixeira
Marluci Martins
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A bola ou o bolo? O técnico do Flamengo, Mano Menezes, fez sua escolha. Assim, desfalcará neste domingo a festa de aniversário do único neto, Lucas, que completa um ano. Contra a Ponte Preta, às 16h, no Moisés Lucarelli, o treinador espera dar um presente à torcida: muitas felicidades, dois dias antes de uma data querida. Na terça-feira, ele completa três meses à frente do clube.
Sente-se aliviado após a vitória sobre o Santos?
Ainda não. Se a gente olhar a tabela, vai ver que do Atlético-MG para baixo, uma rodada sem pontuar pode te colocar muito próximo dos quatro últimos. Mas o Flamengo fez, nos quatro primeiros jogos, dois pontos. E agora, no primeiro jogo do returno, a gente fez três. Ou seja: fizemos mais do que nas primeiras quatro rodadas.
Carlos Eduardo é titular do seu time?
Ele está se tornando. Ele fez, contra o Santos, seu melhor jogo no Flamengo. É natural que passe por dificuldades, pois ficou um ano e meio sem jogar futebol, recuperando-se de lesão. Será muito importante que ele permaneça como titular. Gabriel e Paulinho têm característica de jogadores que conduzem, correm com a bola. Se todos correrem, teremos dificuldade. Alguém precisa parar e pensar. O equilíbrio que estamos procurando passa pelo Carlos Eduardo.
Carlos Eduardo é tachado como culpado de tudo de ruim que acontece no clube?
Essa é uma mania nossa. No Brasil e no futebol. Ouvi uma frase interessante sobre aquela atleta brasileira que deixou cair o bastão no Mundial de Atletismo: “O Brasil nunca perde. Quem perde é o brasileiro”. Isso me levou a uma reflexão. A equipe adversária nunca nos ganha. Nós é que perdemos porque alguém não está fazendo a sua parte. Estávamos fazendo a edição do jogo em que eliminamos o Cruzeiro da Copa do Brasil e o narrador falava: “Agora, vai custar muito caro aquele erro do Dedé lá em Belo Horizonte”. Isso tem cabimento? O Cruzeiro teve dez chances de fazer um gol contra a gente. Fizemos uma grande jogada, e o locutor colocou em cima de um jogador a culpa pela eliminação. Não precisa haver um vilão. Não pode recair sobre o Carlos Eduardo as dificuldades. Quando ele não funcionar, tem que haver outras soluções.
Carlos Eduardo vai calar os críticos?
Não gosto de termos fortes no futebol. Soa como prepotência exigir que as pessoas mudem de opinião. Isso só acontece com os resultados. Ele tem qualidade técnica para fazer jogos no nível de sua atuação contra o Santos quando, atrás de mim, um torcedor gritou: “Não tira o Carlos Eduardo porque ele é o melhor do time!”
Achou ruim a proximidade da torcida, no novo Maracanã?
A gente que foi criado no interior sempre teve essa convivência. Os alambrados ficavam a um metro do banco de reservas. Às vezes, convivíamos com palavrões e objetos atirados (risos). Às vezes, aparecem um chatos, e, também, os que querem ajudar. Outro dia apareceu um torcedor com um cartaz no qual dizia que queria ser meu auxiliar-técnico (risos).
O Técnico do Clube de Regatas do Flamengo Mano Menezes
O Técnico do Clube de Regatas do Flamengo Mano Menezes Foto: Fábio Teixeira / Extra
É uma desvantagem enfrentar a Ponte Preta comandada por Jorginho, que conhece tão bem o Flamengo?
Não acho que isso seja determinante. O mais importante é o que a Ponte vai fazer como equipe. São jogadores com boa experiência. Entre eles, um goleador, que é o William. Será um jogo bem difícil.
Flamengo ou Corinthians? Onde é mais difícil trabalhar?
Neste momento, o trabalho no Flamengo é o mais difícil que já comandei porque o clube passa por uma reformulação geral. Fazer isso na Primeira Divisão é muito difícil porque você enfrenta as maiores equipes do País. A direção do Flamengo propôs uma alteração no comportamento do clube. Isso mexe com vários interesses. No Aeroporto (na chegada de Minas, após derrota para o Cruzeiro), havia alguém reivindicando ingressos para sua organizada. Eu diria que o torcedor vai agradecer porque as novas propostas serão significativas.
Você, como treinador, preferia que a diretoria desse ingressos à torcida?
Sempre é mais fácil ser bonzinho do que dizer não. Mas você precisa pesar bem e chegar num ponto de equilíbrio. Nos clubes, de um modo geral, a gente viveu situações extremas com torcidas organizadas. Dizer sempre não torna você mais antipático. Mas é que nem na sua casa, com os filhos. Às vezes, tem que dizer não para que o clube se torne melhor. Ouço muito, no futebol: “Você precisa ser criativo”. É fácil ser criativo, deixando R$ 100 milhões para as outras administrações pagarem. Difícil é honrar os compromissos com as pessoas que você contrata. É quase uma irresponsabilidade com meus jogadores eu pedir dez contratações, sabendo que os meus não vão receber. Não me sinto bem e acho que os técnicos devem assumir isso. Então, quando aparece alguém que quer mudar, você tem que incentivar.
Os técnicos têm responsabilidade sobre essa difícil situação em que estão os clubes?
Não podemos fazer de conta que não é com a gente. Quando você assume o comando do clube, tem que saber qual é a sua realidade. Como vamos conduzir os próximos 365 dias? Como fazer o planejamento do ano que vem? Hoje, o Flamengo paga mensalmente quase R$ 2 milhões para jogadores que não estão no clube comigo.
A saída litigiosa do Renato Abreu não pode onerar o clube?
Não me envolvo. Isso pertence à direção. O Flamengo entendeu que a relação com o Renato não deveria ter continuidade. Tivemos uma conversa muito clara quando assumi. Falava-se de questões ocorridas internamente e que não deveriam continuar. A direção tomou a atitude que achou que devia tomar.
Mas o clube tenta aplicar uma justa causa no jogador, quando, na verdade, o dispensou pelo site...
A gente precisa tomar cuidado porque sempre existem várias versões. É bem provável que o Flamengo vai argumentar diferente quando se estabelecer essa discussão judicialmente.
Você já sabia que ele estava fora?
Já sabia.
Consegue imaginar o Flamengo fazendo grandes contratações para 2014? Está otimista?
Estou. Fizemos na semana passada nossa primeira reunião para o planejamento de 2014. O Flamengo vai melhorar. A velocidade em que ele vai melhorar é que ainda vamos estabelecer...
O ex-presidente Kleber Leite disse que o Flamengo precisa de três ou quatro pesos-pesados...
O Kleber Leite não é do futebol do Flamengo. É mais fácil dar palpites do que tomar decisões.
O Técnico do Clube de Regatas do Flamengo Mano Menezes
O Técnico do Clube de Regatas do Flamengo Mano Menezes Foto: Fábio Teixeira / Extra
O Flamengo vai cair? Onde esse time pode ir?
O Flamengo não vai cair porque vamos fazer um segundo turno melhor do que foi o primeiro. Vamos disputar com o Botafogo a possibilidade de chegar à semifinal da Copa do Brasil. No funil de uma final, todo mundo pode chegar. Mas falar em título do Campeonato Brasileiro é uma irresponsabilidade. Não vou criar essa ilusão na cabeça do torcedor rubro-negro. Seria uma reação milagrosa. O título vai ficar entre os quatro primeiros.
O título da Copa do Brasil é possível?
Dá para todo mundo. E para o Flamengo também.
Qual é o time que mais te encanta nesse Brasileiro?
Os dois times que estão jogando o melhor futebol são Cruzeiro e Botafogo. Gosto do perfil do Marcelo (Oliveira) e do Oswaldo. Eles armam equipes ofensivas, sem atacar igual a índio. Oswaldo é a confirmação de tudo o que se quer para o futebol. Foi muito contestado. Hoje, o Botafogo é uma equipe estável e isso tem muito a ver com o Oswaldo.
Elias pisou na bola ao confessar que forçou o terceiro amarelo, contra o Santos?
A gente precisa parar com certas questões no futebol brasileiro. Tomar cartão amarelo não é da regra? Então, você tem o direito de tomar o cartão amarelo, quando quer tomar o cartão amarelo. Está na regra. Cáceres tomou cartão por demorar a bater uma falta. Ninguém falou nada. Foi o mesmo cartão que o Elias tomou quando foi bater o lateral. De um tempo para cá, se começou a falar em fair-play. Não tem nada disso. É da regra do jogo. Devo pedir para o Elias fazer um falta grosseira para levar o terceiro cartão? Ele deve machucar um colega de profissão? Aí não tem problema? A gente podia parar com isso. Não é questão para se levar um jogador a julgamento ou suspender. Desculpe, mas isso é demagogia.
Qual foi o seu pior momento no Flamengo?
Foi a derrota de 4 a 0 para o Corinthians. O Flamengo não pode tomar de 4 a 0 de ninguém, mesmo com as dificuldades. Você tem que saber até perder.
Vê na seleção do Felipão alguma semelhança com a sua?
Vou ser bem objetivo. Não quero falar sobre seleção porque fica parecendo que você não virou a página. Era uma etapa difícil, tinha que fazer uma nova seleção depois da Copa de 2010. Escolhi um caminho, fiz o trabalho que achei que deveria fazer e é bom registrar que nunca tive nenhum problema dentro da CBF. E o trabalho na minha maneira de ver foi bem feito, até porque a continuidade dele comprova isso. Hoje, com Felipão e Parreira, mas baseado naquilo que foi construído inicialmente, o que me deixa satisfeito.
O diretor-técnico Parreira elogia você pela forma como fez a transição...
É. Minha relação com ele é muito boa. Durante o momento em que estive lá, sempre que conversamos ele foi muito colaborador, passando algumas coisas importantes da experiência que teve. E retribuí. Penso que essa deve ser a atitude, mesmo traumática, por ter um trabalho interrompido no meio. Tinha todos os dados armazenados do que havia sido feito naquele período e passei a ele para que servisse de base.
Tem mais afinidade com o Parreira?
Neste momento, sim.
Conversou com o Felipão?
Não.
Tem algum ressentimento dele?
Não. Não houve nada, não.
E com a CBF, ficou magoado?
Não. Não guardo mágoa. Não tenho tempo para isso. Sou muito bem resolvido, sou feliz. Não tenho mágoas, nem raivas.
Conversou ou esteve com o Marin após a demissão?
Não.
Gostou da Copa das Confederações?
Gostei.
O Técnico do Clube de Regatas do Flamengo Mano Menezes
O Técnico do Clube de Regatas do Flamengo Mano Menezes Foto: Fábio Teixeira / Extra
Está gostando dos estádios?
Estou. A melhora é tão grande que você só nota quando vai a um estádio antigo. Desde a iluminação, gramado, tudo. Dependências internas...
Fred falou que você não foi o Mano dele. O que achou da declaração?
Ah, é uma declaração só. A vida de técnico exige muitas tomadas de decisão. E nem todas agradam. É impossível agradar a todo mundo. E eu procuro seguir aquilo em que acredito. A pior coisa é quando você perde e vai para casa sem ter seguido as suas convicções. Aí, você não se perdoa. Se você as seguiu, a derrota faz parte do esporte, mas você está com a sua consciência tranquila.
A exclusão do Fred da seleção tem a ver com o pai dele ter dedurado uma simulação de contusão para não jogar pelo Brasil?
Você vê como essas histórias vão se distorcendo. Não excluí o Fred. Na minha última convocação, Fred estava lá e fez gol. Perdemos para a Argentina por 2 a 1 e ele fez o gol. Apenas a partir de um determinado momento, preferi montar a equipe sem um centroavante de referência porque queria utilizar Kaká, que era um jogador mais experiente que a gente trouxe de volta para a seleção. E eu entendia que para manter aquela filosofia de jogo, de marcar na frente, aquela era a formação ideal naquele momento. Mas eu nunca disse que iria jogar todos os jogos sem um centroavante. Iria criar uma alternativa diferente do que costumeiramente a gente vinha utilizando.
E a história do pai do Fred, sobre o filho ter desprezado a seleção para jogar pelo Fluminense?
A história do pai não existiu. Fred jogou um jogo pelo Fluminense, e nós tínhamos feito a convocação para um jogo contra a Argentina, em Córdoba. Abel deu uma entrevista dizendo que o Fred tinha sentido e que provavelmente não iria para a seleção. A gente não podia abrir um precedente em cima de uma declaração pós-jogo, deixando o jogador fora. Entramos em contato com o Fred, pedimos que se apresentasse e viajasse com a seleção para Córdoba. O doutor Rodrigo Lasmar examinou o Fred, e a gente sabia que se colocasse ele em campo havia o risco de agravar a lesão. Então, a gente decidiu não colocá-lo em campo e o liberamos, mesmo sabendo que no domingo seguinte era bem provável que estivesse em campo, como realmente esteve. Então, não existiu o fato do pai. O pai entrou para o folclore do futebol. São muitos pais, muitos representantes... Agora temos também esposas que postam no Twitter (risos)... (Nesse momento, o assessor de imprensa que acompanhava a entrevista, lembrou: “Tem o pai do Moreno...”) É. Tem um monte de pai.
O acordo com o consórcio para que os jogos do Flamengo sejam no Maracanã é uma vantagem a mais?
Foi muito bom a gente voltar para o Maracanã. A gente vinha sofrendo um desgaste maior do que os adversários. Quando você fica andando pra lá e pra cá, perde muito a sua referência. E mexe no treinamento. Estando fora, você não treina como quando está no seu centro de treinamento. Fizemos um levantamento e concluímos que do Ninho do Urubu até o hotel, em Brasília, gastávamos quase cinco horas.
Seu único neto, Lucas, completa um ano no domingo. Você estará ausente?
Não vou poder ir no aniversário do meu neto. A comemoração vai ser no Rio Grande do Sul. O futebol toma muito a vida da gente. Você ganha bem quando chega num certo nível, mas ele toma a sua vida. São raros os momentos em que você sai com a família.


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