20 de set. de 2013

Após anunciar demissão, Mano explica saída à diretoria do Fla por SMS

Vice-presidente de futebol do Flamengo, Wallim Vasconcellos, no Ninho do Urubu. Dirigente não conseguiu falar com Mano pelo celular, e recebeu um SMS do treinador Foto: Marcelo Carnaval/08-04-2013
Vice-presidente de futebol do Flamengo, Wallim Vasconcellos, no Ninho do Urubu. Dirigente não conseguiu falar com Mano pelo celular, e recebeu um SMS do treinadorMARCELO CARNAVAL/08-04-2013
RIO - Mano Menezes era a engrenagem à beira do gramado de um novo Flamengo e a peça que dava à torcida a certeza de que um grupo fraco tecnicamente não correria o risco de ser rebaixado neste Brasileiro. Contratado há pouco mais de três meses, o ex-treinador da seleção brasileira trouxe homens de sua confiança ao clube, Chicão e André Santos, para que se juntassem a Felipe e Elias, e montasse no rubro-negro a base do time que venceu, pelo Corinthians, a Série B, em 2008, e a Copa do Brasil, em 2009. Na ideia da diretoria rubro-negra, que assumiu no início do ano com um discurso de austeridade financeira, a atual temporada seria o momento de contenção de gastos e de reunir força. E 2014, o ano de lutar por títulos importantes.
Tudo isto pode até seguir de pé, mas sem Mano, que era um trunfo para a atração de grandes jogadores no ano que vem. Ao justificar sua saída pelo fato de não conseguir passar para o grupo o que pensa de futebol, o treinador evidenciou a baixa qualidade do elenco. E ao não entrar em contato com o presidente Eduardo Bandeira de Mello ou com o vice-presidente Wallim Vasconcelos, Mano deixou decepcionada a cúpula do clube. Enquanto o mistério sobre sua saída não é desvendado, sobrarão especulações de que seu futuro é em outro grande clube do futebol brasileiro. Para Wallim, o que machuca é o fato de Mano jamais ter dado sinais de que tomaria a decisão.
— Ele pode ir para qualquer clube. Internacional, Bahia... Não há problema nenhum. Mas, se fosse isso, bastava falar: “Olha, Wallim, eu recebi a proposta tal e acho que vai ser melhor para mim e para o Flamengo, porque não consegui fazer os jogadores assimilarem minha proposta e tal.” Seria compreensível, eu entenderia. Mas assim, sem conversar, sem olho no olho? Meu modo de ser é assim, olho no olho, falar olho no olho — afirmou o dirigente ao GLOBO.
Para repor a saída de Mano, o Flamengo observa o mercado e não vê opções do mesmo quilate. Sem clube, Abel Braga afirma ter pouco a ganhar se assumir um time em crise neste ano e pretende voltar a trabalhar só na próxima temporada. Com alta rejeição, a chegada de Celso Roth é improvável. Paulo Autuori é visto como um bom nome, mas, com clubes grandes derrapando no Brasileiro, há indícios de que um troca-troca de treinadores está prestes a acontecer e renovar as opções.
Por ora, Jayme de Almeida assume a equipe. Ex-jogador do clube, ele faz parte da comissão técnica permanente e já dirigiu a equipe uma vez neste Brasileiro. Após a demissão de Jorginho, comandou o Flamengo na primeira vitória na competição: 3 a 0 sobre o Criciúma, em Santa Catarina. Seu próximo desafio é amanhã, contra o lanterna Náutico, na Arena Pernambuco.
— Não há substituto para o Mano. Nós não esperávamos a saída e não tínhamos nada planejado, mas, por sorte, temos uma comissão competente que existe exatamente para situação como essa — afirmou Bandeira de Mello.
Pelaipe cada vez mais pressionado
Homem responsável pela palavra final no futebol do Flamengo e que, por isso, vem sofrendo pressão de torcedores insatisfeitos com a equipe, Wallim tem esperança de que Jayme repita sucessos do passado, quando ex-jogadores do clube domaram o ambiente de pressão. O Flamengo é 16º colocado, com 26 pontos, e apenas dois pontos na frente do Criciúma, melhor colocado entre os times da zona de rebaixamento.
— O futuro, por enquanto, é o Jayme. Ele vai dirigir o time contra o Náutico. O Flamengo, em outros momentos, teve um treinador com essa liga. Andrade, Carlinhos... Quem sabe? Futebol é resultado. Jayme pode ficar, sim, mas é cedo para dizer isso — afirmou Wallim.
O vice de futebol foi pego de surpresa com a demissão de Mano, assim como Bandeira de Mello. Os dois foram ao Maracanã, mas, como de costume, não entraram no vestiário. O presidente soube da demissão quando voltava para casa e escutava o rádio no carro. Único dirigente que tomou conhecimento da decisão do treinador antes de ser anunciada, o diretor-executivo Paulo Pelaipe não conseguiu dissuadir o técnico. Alguns jogadores tentaram o mesmo, em vão.
Nos bastidores do clube, a saída de Mano enfraquece Pelaipe, que também tem recebido seguidas críticas da torcida e havia sido insultado no Maracanã, antes mesmo do fim do jogo. Pesa contra o diretor-executivo o fato de ter apostado em Carlos Eduardo, que tem rendimento abaixo da expectativa e é alvo constante de vaias dos torcedores rubro-negros. Apesar disso, o discurso oficial é que Pelaipe segue valorizado.
Na véspera do jogo, Mano concedeu entrevista em que jamais deixou transparecer a intenção de deixar o clube. O técnico falou, inclusive, que já havia iniciado o planejamento para a próxima temporada. Na manhã da partida, ele teve uma conversa de cerca de uma hora com Wallim e Pelaipe. Mais uma vez, falou sobre o futuro, sem dar sinais de que sua passagem chegaria ao fim.
— Pela manhã, no dia do jogo, eu fui ao hotel e conversamos uma hora, eu, ele e Pelaipe. Nada do que falamos indicava que isso aconteceria. Depois, à noite, no intervalo do jogo, eu não estava presente no vestiário, mas soube que ele deu instrução para o time, incentivou os jogadores. Disse para o time ir para cima, fazer mais um gol. Nada indicava que ele tomaria essa decisão — revelou Wallim sobre o jogo em que o Flamengo terminou o primeiro tempo com vitória parcial por 2 a 1, antes de levar a virada por 4 a 2.
Uma hora depois da partida, Mano dirigiu-se ao encontro dos jornalistas e foi frio ao dar uma declaração — sem espaço para perguntas — em que anunciou sua saída. Ontem, ao site UOL, disse que, se ficasse, “estaria enganando a torcida”, e criticou a estrutura do clube. Nada disso foi mencionado na mensagem de texto que mandou por celular para Wallim cerca de 12 horas após divulgar sua saída. Mais uma vez, o técnico foi frio.
— Liguei seguidas vezes, e ele não retornou nenhuma ligação. Hoje (ontem), recebi um SMS (mensagem de texto) dele, e foi nosso único contato. Eu estava no Ninho do Urubu, de manhã, e recebi a mensagem. Ele agradeceu a confiança, se desculpou e disse que esperava que entendêssemos no futuro — contou Wallim ao GLOBO.
Ex-técnico pagará cerca de R$ 1 milhão
Com a rescisão unilateral, Mano será obrigado por contrato a pagar uma multa no valor de dois salários, ou quase R$ 1 milhão. Acostumado a contrair dívidas com seus antigos treinadores, esta talvez seja a maior novidade trazida pela diretoria que prometia novos ares ao departamento de futebol. Mano é o terceiro técnico a deixar o clube na atual temporada. Contratado na gestão anterior, Dorival Júnior foi demitido em maio. A justificativa era de que o salário do técnico teria um reajuste acima do que o rubro-negro poderia pagar.
Sem Dorival, o clube apostou em Jorginho. Ex-jogador identificado com o clube, ele ficou menos de um mês e foi demitido sem vencer uma única partida em quatro jogos pelo Brasileiro. Foi substituído por Mano na paralisação do campeonato, durante a Copa das Confederações., em junho. Técnico do último título Brasileiro, em 2009, Andrade lamentou a saída de Mano e pediu um treinador que tenha ligação com o Flamengo.
— Pessoas que conhecem o Flamengo têm grande vantagem. Muitos treinadores com experiência e grande currículo não conseguiram resultado quando passaram pelo Flamengo. O caminho é ter alguém que sabe e conhece bem o clube — indicou Andrade


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